sexta-feira, 30 de outubro de 2009

DANIEL C.A ENCONTRA CASQUINHA

Daniel C.A é o fã mais ardoroso (desses mais estéricos) do Casquinha da Portela. Por isso, resolvi convidá-lo para uma visita surpresa ao nosso astro. Empolgadíssimo – como não poderia deixar de ser –, C.A. aceitou o chamado sem pensar meia vez, concordando no ato, sem sequer esperar que eu falasse o horário. Antes do meio-dia, partimos com destino a Bangu, bairro onde reside o compositor e antigo parceiro de Candeia (no meio do caminho, apanhamos Vanderson, no terminal 1 do Galeão, onde – superando a crise da aviação – trabalha há coisa de vinte anos).

Chegando ao sobrado da estreita Rua Cordoniz, no Conjunto João Saldanha, - para desengano de todos a bordo - Mônica (filha caçula e esposa de Vanderson) nos informou que Casquinha havia saído. Mantendo de pé nosso pedido de que a visita fosse uma surpresa deixamos o casal, para procurarmos alguma birosca, enquanto nosso ídolo não pintava.

Logo ao virarmos na esquina, demos de cara com o Bar da Maura (Dona Maura é uma senhora desconfiada, aparentando uns sessenta e poucos anos, mas que foi se soltando ao reclamar do problema na vista: catarata), onde pedimos uma Brahma.

Quando partíamos para terceira garrafa, o celular nos interrompe. Vanderson me comunicava entusiasmado sobre a chegada de Casquinha:

- Rodrigo, ele chegou, corre!

Pagamos a que faltava e fomos depressa para casa do o componente número um da Azul e Branco.
Depois de longa conversa (coisa de quatro horas), onde mostrarmos a ele quase dez sambas de sua autoria, que o próprio Casquinha já não se lembrava mais (qualquer dia falo sobre essas composições), foi lindo ver a cara de alegria, a satisfação de C.A (um menino) em poder estar perto do velho malandro. Notem, caros amigos, nas fotografias a euforia, o estado de nervo de Daniel, ao lado do mestre.

Agora, foi emocionante ver o Cantor de Sacola relembrando, cantando sem titubear suas velhas composições com Candeia. Não vejo a hora de retornarmos. Só lamento por Casquinha não poder mais beber, para tomar umas conosco lá no Bar da Maura.
Inté.

LUCILIA CAVALCANTI: O ANDARILHO


Quinta-feira é dia de Lucilia Cavalcanti. Fiquem com nossa cronista.
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O ANDARILHO

Roupas empoeiradas, surradas e às vezes precisando de conserto e lavagem, alpargatas gastas, cabelos ressecados pelo vento, pelo sol e pela ausência de um bom banho. Já faz muito tempo que não passa por uma grande cidade. A caminhada é longa e o andarilho já está cansado e sonha com o que deixou para trás há muito tempo. Mochila às costas, violão a tira-colo, caminha vagarosamente pela longa estrada poeirenta que corta a paisagem desoladora daqueles campos ressequidos, onde não há nem uma arvore em cuja sombra possa se abrigar dos raios causticantes do sol e descansar um pouco. A próxima cidade ainda está longe. Naquele ermo sem fim, nota um presença de vida. É um cão faminto que segue seus passos, quase sem força, pelo eriçado, patas machucadas e de tão magro é possível contar-lhe as costelas. Pobre cão, que como ele vaga sozinho naquela estrada. Encontro macabro de duas vidas maltratadas. Um, um andarilho solitário, outro, um pobre cão faminto e enxotado. Andam lado a lado, parceiros do mesmo infortúnio. Sede e fome é o que não lhes falta. Andam juntos até à exaustão esperando o milagre de um abrigo qualquer, quando ao longe, muito longe avistam algo como um oásis, na solidão daquela estrada sem fim. Andam mais e mais até chegarem a um casebre semidestruído, de aparência miserável, completamente abandonado, mas que para o andarilho e seu cão assemelha-se a um palácio. Reunindo as forças que lhes restam, aceleraram os passos e caíram exaustos no chão de terra batida daquele abrigo inesperado. Ofegantes ali permanecem por muito tempo, sem se mexerem. Aos poucos o andarilho recobra o ânimo, senta-se, vasculha a mochila e ainda encontra um pão endurecido e uma garrafa com água. Bebe um pouco e na mesma caneca faz beber o seu companheiro. Corta o pão em dois pedaços e ambos comem avidamente. Extenuados, ali adormecem até o raiar da aurora de um novo dia. Levantam-se e ambos espreguiçam-se, cada um ao seu modo e reiniciam a jornada. Um sempre ao lado do outro. O andarilho acaricia a cabecinha do cão, que lhe agradece abanando a cauda. Ambos andam silenciosamente. O cão acompanhando o dono que nunca teve e o andarilho em busca do mundo perfeito, da liberdade tão ansiada, do nirvana, desde que abdicou do lar, do conforto, dos amigos e de seu grande amor. O cão encontrou o dono almejado, mas o andarilho jamais realizou o seu sonho. Quem passa pelas estradas, pelas vilas, pelas cidades desse imenso país, sempre encontra o andarilho e seu inseparável cão e assim será até o fim dos tempos.
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Inté.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

REGRESSO

Voltei com os cascos de cerveja em casa, algo que nunca deveria ter deixado de ter. Por conta de inúmeras reclamações de Minha Deise - alegando falta de espaço -, havíamos parado de guardar as garrafas vazias (tão úteis) em nosso apartamento. Condição que nos obrigava a comprar somente as latinhas. Não que eu seja totalmente contra a este tipo de embalagem, já que a mesma tem lá seu valor, principalmente em tempos de “portabilidade” – se é que isso combina com cerveja. Agora, o charme e a qualidade da cerveja engarrafada no casco escuro de 600 mililitros formam uma dupla imbatível, e isso não é novidade pra ninguém, muito menos para nós que tanto gostamos da bebida.
Mas agora que a convenci Minha Deise - pelo menos até a primeira briga por falta de espaço -, o engradado foi novamente para varanda. O certo seria mostrar a vocês a grade (como se chama o engradado nas cidades interioranas; lá também se chama maço de cigarros de carteira). Porém, resolvi explicitar parte da minha comemoração a este retorno, ao regresso dos cascos à minha casa. Para acompanhar, - no final de sequência de fotografias - nada melhor que Regresso, de Candeia, na voz do mesmo.


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Regresso
(Candeia)

Canto, canto com alegria
Hoje a nostalgia está triste
Sentindo o cantar que em meu coração bate
Tão forte e contente
Dizendo a toda gente
Que voltaste ao meu larNão sabia que voltavas tão meiga assim
Parte, amor, já é noite
Mas traga de novo o calor
Dos teus beijos pra mim
Que eu sei dar valor ao regresso
Juro, jamais te peço
Pra ficares, amor

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Inté.

LENTES DE O "butecólico": RAFAEL BARROS III


Já que a imagem não ficou lá grandes coisa, darei continuidade aos relatos sobre esta noite de sexta-feira, o dia que mais enche no Beto. Com isso, descrevo a vocês, que acompanham os relatos deste bar, uma triste constatação: há mais de uma semana, não se vê tremoços em nosso buteco de fé, e por este motivo, resolvi me valer de meu estoque (compro um pote com dois quilos e meio do acepipe no atacadista ASSAI, por R$ 8.00). Levei outro pote (este, menor, tipo esses tapeware’s) cheio até o tampo do tão apreciado leguminoso. Não satisfeito, Hugo resolveu fazer dali um rodízio de carnes, pedindo à Maria (esta aqui) todos os tipos de espetos que ela tinha pronto. Posso jurar que ele comeu mais duas bandejinhas dessas quem vocês irão ver, além de um copo de feijão, acreditem. Na hora de nos recolhermos - já que a noite era mesmo de surpresas -, meu irmão, Diego, aparece, após ter buscado sua Tânia no trabalho, isso já mais de meia-noite.


p.s: soube por minhas fontes que Rafa só abandonou o posto às duas da manhã.

Inté.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

LUCILIA CAVALCANTI: SÃO PAULO

Agora à noitinha, quando escolhia o texto desta quinta-feira (toda quinta é dia de Lucilia, em O “butecólico”), que – tenho certeza – enriquecerá tanto este blog quanto os outros postados anteriormente, precisei de uma sacudidela. O solavanco partiu de Minha Deise, quando me viu estático na frente da tela.

Perdi-me por inteiro quando fui tomado pelo texto, e atirado a uma cidade desconhecida, mas não tão suspeita. De fato, - sem sequer ter pisado por lá - me senti quase no quintal de casa, nessa – que nem sei se já era na ocasião dos relatos – a maior cidade da América Latina. Cidade dos tempos de outrora. América de gente como Lucilia Cavalcanti, uma obstinada.

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SÃO PAULO

Não te conheci, São Paulo, na época distante dos lampiões de gás, das serenatas, das cadeiras nas calçadas nas noites de verão, quando as pessoas dos bairros ainda consideravam uma grande família. As cadeiras nas calçadas, os homens discutindo política entre um gole de vinho, ou pinga e a fumaça de cigarros e charutos, as mulheres trocando receitas culinárias e de tricô e as crianças brincando de “pega-pega, de bola ou de “peteca”, sorrindo despreocupadas. Devia ser linda aquela época. Gostaria de ter conhecido lá, entretanto vim te conhecer na década de sessenta, quando já eras grande e confusa, mas ainda havia muito encanto em tuas ruas do centro e dos bairros. As pessoas ainda se cumprimentavam, ainda sorriam e se desculpavam se por acaso se esbarravam nas ruas, já bastante movimentadas. Lembro que levava meus filhos para passear no centro da cidade, onde tomávamos sorvetes e eles não dispensavam um lanche em uma boa pastelaria. Pasteis bons e confiáveis, feitos com esmero. As pessoas vestiam-se bem, as casas de chá eram bem frequentadas, com música ao vivo tocada por uma ou um pianista. As meninas e as mocinhas com vestidos da moda e bem confeccionados. Os meninos e os rapazes não usavam bermudões, nem camisetas coloridas como hoje. Os garotos e os rapazes usavam terninhos e gravatas borboleta. Era um luxo um passeio à tarde pela Rua Barão de Itapetininga e pela Praça Ramos de Azevedo em frente ao Mappin e ao Teatro Municipal. Já eras grande São Paulo e uma grande promessa em todos os sentidos. Agora, quarenta e nove anos depois, te vejo com outros olhos e com outros sentimentos. Vejo-te uma megalópolis cruel, fria e desumana. Os miseráveis se multiplicaram e já não podemos abrir a bolsa para dar-lhes uma moeda como antigamente. Ainda pior, já não conversamos ou acariciamos uma criança na rua, muito pelo contrário, temos medo dela. Que mundo é este em que uma criança na rua nos inspira terror, em vez de carinho? Cresceste São Paulo, evoluíste. Novas e belas construções, iluminação feérica no centro financeiro, Avenida Paulista, cartão postal da cidade belíssima. Restaurantes de auto padrão, casas de show cada vez maiores e sofisticadas, carrões cruzando as avenidas, metrô cortando o sub solo e transportando milhares de pessoas. És uma mega cidade. Os turistas te admiram e se encantam com o teu progresso. Grandes negócios são realizados periodicamente em tuas grandes feiras, monumentais feiras, dignas de países de primeiro mundo. O lazer é farto, farto e caro, com entretenimentos de alto luxo. Mas, São Paulo, vamos para as periferias. Lá são ruas escuras, esburacadas, favelas mal acabadas, com becos estreitos, esgoto a céu aberto e barracos caindo aos pedaços, crianças descalças garimpando o lixo, lixo que vem da megalópolis e de repente chegam os policiais à procura de bandidos. Distribuem pancadas, invadem barracos, empurram mulheres e crianças, levam homens presos, às vezes sem nenhuma culpa.

São Paulo dos grandes contrastes. Do belo e do horrível. Do rico, do pobre e do miserável. Dos bandidos, dos bandidos de gravata e dos bandidos políticos. São Paulo dos banqueiros, dos industriais, dos magnatas e dos trabalhadores espremidos no precário transporte urbano.

São Paulo dos grandes hospitais.
São Paulo dos hospitais públicos sem leito, sem médicos e sem remédios.
São Paulo dos grandes colégios.
São Paulo das escolas periférica sem teto e sem carteiras.
São Paulo das grandes mansões.
São Paulo dos moradores de rua
São Paulo de belos jardins.
São Paulo dos grandes lixões.
São Paulo, como pode dois mundos tão diferentes em uma mesma cidade?
São Paulo, por tudo isto, te amo, te odeio!
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Inté.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

RAFA ESCAPA NOVAMENTE

Definitivamente, tenho que mudar de fonte (é secreta e não posso revelar), ou - mais uma vez - fui despistado. Ao chegar hoje no Bar do Beto, vi quase todos, menos ele. Rafael Barros (este aqui), segundo soube no balcão, passou por lá, mas nada e de esquentar lugar. O ébrio zarpou imitando o Halley, me deixando entristecido.

Agora, para minha sorte, o local conta com a presença de outros ilustríssimos insulanos, que - assim como Rafa - também merecem ser estampados nas páginas de O "butecólico". O primeiro a dar as caras foi o Brito (Brito é pai do meu grande amigo Jeffinho - falarei dele outro dia - já foi flagrado, aqui, pelas lentes deste blog). Depois vem a Maria, que há muito mais de dez anos vende churrasquinho em frente ao Bar do Beto. Roberto, de certa forma, apoia a atividade desta simpaticíssima senhora. Maria atrai, quase todas as noites, com suas varetas de carne, salsichão e asa de frango na brasa, dezenas de beberrões, além de famílias inteiras. Por isso, ela até utiliza a energia elétrica do citado butequim para iluminar sua carrocinha. E eu ... bom, eu tenho o privilégio de assistir tudo isso de camarote, com Antarctica custando R$ 2.60.



Inté.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

FERIADO DO COMÉRCIO (OU FALSAS JURAS)


O Roberto, isso mesmo, o Beto do Bar levou essa história de feriado do comércio mesmo a sério (acredito que ele tenha sido o único comerciante - pelo menos entre os donos de butecos - da Ilha do Governador a fazer isso) e resolveu não levantar as portas do seu - ou melhor, do nosso - estabelecimento. Morri de pena quando passei por lá antes da chuva e vi o primeiro time daquele balcão, tendo que se encostar na padaria ao lado, para garantirem as cervejas deste feriado (para isso é que o feriado serve). A maioria já está aposentada, mas eles comemoram, em solidariedade aos que folgam no dia de hoje.

Após esta puxada de tapete, ao pisar em casa, - acredito que pela décima ou décima primeira vez – resolvi assistir o filme O Mistério do Samba. Todas a vezes que ponho as mãos na caixinha deste dvd, Minha Deise já grita: não, outra vez não; e sai da sala resmungando. Por isso, tinha que fazer a exaustiva sessão (digo sessão, pois eu ligo nosso minúsculo home theater no volume máximo e fecho todas as cortinas para dar um clima de sala de cinema) se tornar mais atrativa. Depois de pensar em coisas de que ela gosta, me lembrei da pizza de mussarela, com a metade portuguesa, mas – já com os pratos, copos e talheres sobre a mesa - tentei estabelecer contato com todas as pizzarias que conheço na Ilha do Governador, e nenhuma delas me atendeu, nenhuma. Bom, assisti o filme com a mesma empolgação de quando o vi pela primeira vez, na pré-estreia Minha Deise – como em quase todas as sessões que promovo – dormiu como uma pedra no sofá da sala.

A vocês, deixo uma das músicas que mais gosto no filme, canção com autoria de Casquinha e Candeia, em alusão às falsas juras que Suríca haveria feito a Casquinha da Portela, quando namoravam, isso há muito tempo.

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Falsas Juras

Casquinha & Candeia, em 1954


Eu já lhe disse

Que não quero mais o seu amor porque

As falsa juras nos seus beijos

Me fizeram padecer

Não adianta aos meus pés se ajoelhar

Pode chorar, pode chorar




Vai eu não lhe quero mais

Já cansei-me dos seus beijos

Deixa-me viver em paz

Você jurou, jurou mas não cumpriu

E como judas um dia me traiu

Só falsidade existiu

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Inté.

sábado, 17 de outubro de 2009

LENTES DE O "butecólico": RAFAEL BARROS II

O excesso de confiança me levou a fracassar. No meu último acossamento ao meu amigo Rafael Barros - dava sequência ao que viram aqui (e ainda verão muito mais) -, onde procuro capturar imagens deste ébrio para postagens aqui, em O “butecólico”, fui negligente. Mesmo sabendo que poderia utilizar recursos da minha máquina fotográfica para aproximar o objeto (Rafael Barros, no Bar do Beto), resolvi chegar mais perto. Esta ousadia descabida me revelou a ele. Logo após dar o primeiro disparo (acompanhado do flash, outro sinal claro do amadorismo que acompanha-me em certos atos), fui descoberto por ele, que logo sorriu para as lentes de O “butecólico”.

Garanto a vocês, que - em absolutamente nada - o ocorrido abala o objetivo desta tarefa. Trazer a vocês fotografias deste entusiasta cervejeiro, que tanto valoriza nossas maravilhosas tabernas da Ilha do Governador.

Inté.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

LUCILIA CAVALCANTI: LEMBRANÇAS DA INFÂNCIA


Ontem (15 de outubro de 2009) foi dia de Lucilia Cavalcanti, aqui em O “butecólico”, mas não consegui postar o texto selecionado para esta semana, por conta de entraves – digamos – tecnológicos, já que meu computador começou a apresentar problemas - já solucionados -, no momento em que transferia de minha máquina fotográfica (não consigo pronunciar confortavelmente a denominação câmera digital, apesar de não ver problema algum em quem prefere a chamar assim) para meu computador, as fotos do dia que Romário foi à Portuguesa (vejam aqui). Isso realmente impediu meu acesso à internet, no dia reservado para esta autora que tanto admiro.

Porém (ah, porém...), hoje, nesta sexta-feira quase arruinada pela derrota do Brasil na final do Mundial Sub-20 (todos sabem que nossa seleção de garotos perdeu para Gana, nos pênaltis, depois dos vascaínos Souza e Alex Teixeira desperdiçarem suas respectivas chances de conversão, quando a disputa estava no finalzinho), trago a vocês algo positivo. Em vez de caramunhas, fiquem com texto de nossa diva.
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LEMBRANÇAS DA INFÂNCIA

Quando eu era criança minha mãe ia sempre lavar roupa fora de casa e me levava junto com ela. Para mim era muito divertido, pois achava lindo o riozinho que corria entre as pedras, com aquelas águas claras que deixavam ver a areia branca do seu leito. Era bem raso e eu gostava de andar na águas fresquinhas, enquanto minha mãe lavava as roupas e; se por acaso, alguma peça pequena escapava do seu controle, eu saia correndo rio abaixo e logo pegava a peça fujona e a devolvia à minha mãe, entre risos e gritinhos de alegria.


Eu gostava muito daquele ambiente: o murmúrio da águas correndo mansamente entre as pedras, a vegetação rasteira em torno das margens e logo adiante as árvores altas, em cuja sombra as pessoas descansavam e comiam seus lanches, enquanto as roupas secavam.


Depois que minha mãe me dava um banho naquelas águas deliciosamente frescas, voltávamos para casa, minha mãe levando as roupas no carrinho de mão e eu saltitando caminho a fora, sentindo o perfume das flores silvestres que ladeavam o caminho, ouvindo o canto dos pássaros e o barulho gostoso das folhas secas pisadas por nós e ansiava que chegasse logo o outro dia e fôssemos novamente lavar roupa no rio, o que acontecia duas vezes por semana, pois eu queria ouvir o murmúrio das águas, ver os raios do sol entre as folhagens das árvores e as roupas limpas e brancas secando ao sabor do vento.


Em tudo para mim havia tanta beleza, tanta ternura, que só a alma de uma criança é capaz de sentir, transformando o que é triste e medíocre para o adulto, em uma coisa tão bela.


Como seria maravilhoso se agente pudesse voltar a ser criança, pelo menos uma vez na vida. São tão gratas essas recordações e sinto tanta poesia nelas, que para expressá-las fielmente, me valho de versos de ALBERTO CAEIRO ( Fernando Pessoa ):


“Quem me dera que eu fosse os rios que correm

E que as lavadeiras estivessem à minha beira...

Quem me dera que eu fosse os choupos à margem do rio

E tivesse só o céu por cima e a água por baixo (...) ”
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Inté.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

ROMÁRIO NA PORTUGUESA

(RAFAEL BARROS DESPISTA O "butecólico" / PORTUGUESA 0 X 0 AMÉRICA)

O “butecólico” não almeja, sequer vislumbra qualquer tipo de êxito em coberturas esportivas, mas ontem (quarta-feira, 14 de outubro), fui avisado (com todo ar de cobrança possível) por meu grande amigo Rafael Barros – este aqui, que além de virar objeto de postagem do blog, como também podem ver aqui, se comprometeu em colaborar –, sobre o grande evento da quarta-feira, na Ilha (suspeitei, mas...). Ao atender o celular, de cara, veio a bronca:

- Onde você está agora, que tipo de insulano é você que não está agora na Portuguesa, você não sabe que o Romário está lá?

Sabendo da minha perseguição a este ilustre insulano, o mesmo (Rafael Barros, que a esta hora já se apoiava ao balcão do Beto, dando conta de muitas garrafas de Brahma), resolveu me despistar, me lembrando a vinda de Romário à Portuguesa. E foi realmente um drible da vaca, já que eu me programava para surpreendê-lo no bar citado, como fiz
aqui, e como continuarei fazendo.

Bom, atendendo ao pedido, e com um medo danado levar outro pito, corri para o vizinho Luso-Brasileiro em busca das imagens de Romário, sem saber que – na verdade - estava caindo como um pato, como um zagueiro estabanado.

Portuguesa e América não saíram do zero, em partida realizada às 15h. O jogo da 6ª rodada, talvez tenha sido o menos atraente, o mais chato do Campeonato Carioca da Série B, mas eu tinha minha missão. Fotografar o Baixinho em terras insulanas para O “butecólico” era a minha meta.
Ao chegar, quase desanimei, pois vi que o estádio estava bem cheio, condição que poderia dificultar minha chegada ao craque (aqui na Portuguesa, um público superior a mil, isso mil pessoas, é cheio). Porém - valendo-me de alguns contatos na diretoria da nossa Associação Atlética Portuguesa - me aproximei pouco antes do Baixinho sair do estádio sozinho, em seu carraço importado (sem a companhia de qualquer integrantes do time ou da comissão técnica). Com a mesma destreza que ele possui na pequena área, consegui deslocar-me até a porta do vestiário do América, onde Romário conversava animado com outros “à paisana” (seguramente sobre seu retorno ao futebol, defendendo o Mecão, possivelmente, no próximo sábado dia 17 deste mês, contra o Nova Iguaçu, no Giulitte Coutinho). Foram pouquíssimos segundos, mas após um breve sinal de positivo fiz a foto do homem dos mil gols!

Como era de se esperar – mesmo “colaborando” -, Rafael Barros não estava lá (uma pena, pois gostaria mais de fotografá-lo para O “butecólico” do que o próprio Romário).

Enquanto não disponho de novos flagrantes de Rafa no balcão, deixo a vocês as fotografias feitas ontem, no Estádio Luso-Brasileiro. São imagens da grande torcida Rubra, da nossa – também devotada - Raça Lusitana, do placar desanimador, e do Baixinho, é claro.


Inté.