sexta-feira, 16 de outubro de 2009

LUCILIA CAVALCANTI: LEMBRANÇAS DA INFÂNCIA


Ontem (15 de outubro de 2009) foi dia de Lucilia Cavalcanti, aqui em O “butecólico”, mas não consegui postar o texto selecionado para esta semana, por conta de entraves – digamos – tecnológicos, já que meu computador começou a apresentar problemas - já solucionados -, no momento em que transferia de minha máquina fotográfica (não consigo pronunciar confortavelmente a denominação câmera digital, apesar de não ver problema algum em quem prefere a chamar assim) para meu computador, as fotos do dia que Romário foi à Portuguesa (vejam aqui). Isso realmente impediu meu acesso à internet, no dia reservado para esta autora que tanto admiro.

Porém (ah, porém...), hoje, nesta sexta-feira quase arruinada pela derrota do Brasil na final do Mundial Sub-20 (todos sabem que nossa seleção de garotos perdeu para Gana, nos pênaltis, depois dos vascaínos Souza e Alex Teixeira desperdiçarem suas respectivas chances de conversão, quando a disputa estava no finalzinho), trago a vocês algo positivo. Em vez de caramunhas, fiquem com texto de nossa diva.
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LEMBRANÇAS DA INFÂNCIA

Quando eu era criança minha mãe ia sempre lavar roupa fora de casa e me levava junto com ela. Para mim era muito divertido, pois achava lindo o riozinho que corria entre as pedras, com aquelas águas claras que deixavam ver a areia branca do seu leito. Era bem raso e eu gostava de andar na águas fresquinhas, enquanto minha mãe lavava as roupas e; se por acaso, alguma peça pequena escapava do seu controle, eu saia correndo rio abaixo e logo pegava a peça fujona e a devolvia à minha mãe, entre risos e gritinhos de alegria.


Eu gostava muito daquele ambiente: o murmúrio da águas correndo mansamente entre as pedras, a vegetação rasteira em torno das margens e logo adiante as árvores altas, em cuja sombra as pessoas descansavam e comiam seus lanches, enquanto as roupas secavam.


Depois que minha mãe me dava um banho naquelas águas deliciosamente frescas, voltávamos para casa, minha mãe levando as roupas no carrinho de mão e eu saltitando caminho a fora, sentindo o perfume das flores silvestres que ladeavam o caminho, ouvindo o canto dos pássaros e o barulho gostoso das folhas secas pisadas por nós e ansiava que chegasse logo o outro dia e fôssemos novamente lavar roupa no rio, o que acontecia duas vezes por semana, pois eu queria ouvir o murmúrio das águas, ver os raios do sol entre as folhagens das árvores e as roupas limpas e brancas secando ao sabor do vento.


Em tudo para mim havia tanta beleza, tanta ternura, que só a alma de uma criança é capaz de sentir, transformando o que é triste e medíocre para o adulto, em uma coisa tão bela.


Como seria maravilhoso se agente pudesse voltar a ser criança, pelo menos uma vez na vida. São tão gratas essas recordações e sinto tanta poesia nelas, que para expressá-las fielmente, me valho de versos de ALBERTO CAEIRO ( Fernando Pessoa ):


“Quem me dera que eu fosse os rios que correm

E que as lavadeiras estivessem à minha beira...

Quem me dera que eu fosse os choupos à margem do rio

E tivesse só o céu por cima e a água por baixo (...) ”
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Inté.

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